Filosofia da Cultura

30/10/2017 09:14

O ser humano: um ser entre dois mundos

(trecho retirado de Fundamentos da Filosofia, capítulo 1 – Gilberto Cotrim)

 

O que é o ser humano? Assim podemos sintetizar a reflexão de Blaise Pascal, filósofo e cientista francês do século XVII. E a partir dela, formular outras mais, como, por exemplo, "Qual o lugar do homem no Universo?" e "O que é o Universo para o ser humano?" Vamos filosofar sobre o ser humano e aquilo que o toma diferente e singular.

O ser humano pode ajustar-se a um número maior de ambientes do que qualquer outra criatura, multiplicar-se infinitamente mais depressa do que qualquer mamífero superior, e derrotar o urso polar, a lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e viceja, desde os polos da Terra até o equador. Nos trens e automóveis que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes pode subir mais alto do que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe do que o gavião. Com armas de fogo pode derrubar animais que nenhum tigre ousaria atacar.

Mas fogo, roupas, casas, trens, automóveis, aviões, telescópios e armas de fogo não são parte do corpo do homem. Eles não são herdados no sentido biológico. O conhecimento necessário para sua produção e uso é parte do nosso legado social. Resulta de uma tradição acumulada por muitas gerações e transmitida, não pelo sangue, mas através da linguagem (fala e escrita).

A compensação que o homem tem pelos seus dotes corporais relativamente pobres é o cérebro grande e complexo, centro de um extenso e delicado sistema nervoso, que lhe permite desenvolver sua própria cultura.

CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem, p. 40-1.

Assim, diferentemente dos outros animais, os homens não são apenas seres biológicos produzidos pela natureza. Os homens são também seresculturais que modificam o estado de natureza, isto é, o modo de ser, a condição natural das coisas, definida pela natureza.

 

Natureza e Instintos

 

O comportamento de grande parte dos animais é basicamente determinado por reflexos e instintos vinculados a estruturas biológicas hereditárias. Isso faz com que o comportamento de um inseto seja praticamente igual ao de outro de sua espécie, hoje e sempre. Comprovamos isso observando, por exemplo, a atividade das abelhas nas colmeias ou das aranhas tecendo as teias.

Existem animais que parecem mais livres do que outros da dependência dos instintos ou reflexos automáticos, que apresentam alguns comportamentos mais flexíveis, mais imprevisíveis, mais maleáveis às circunstâncias ambientais. É o caso, por exemplo, de cães e gatos, nos quais distinguimos muitas vezes o que se poderia chamar "personalidade". E, dependendo do animal, como chimpanzés e gorilas, é possível encontrar atos inteligentes e uma capacidade elementar de raciocínio.

Apesar de tudo isso, podemos dizer que existe um grande abismo, uma grande diferença entre o comportamento dos animais e o dos seres humanos. Para dar um só exemplo, mesmo o chimpanzé mais evoluído possui apenas rudimentos do que lhe permitiria desenvolver a linguagem simbólica e tudo o que dela resulta: aprender, reelaborar o conteúdo aprendido e promover o novo (invenção). Isso quer dizer que a vida de cada animal é uma repetição do padrão básico vivido pela sua espécie. Já o ser humano tem, individualmente e como espécie, a capacidade de romper com boa parte do seu passado, questionar o presente e criar a novidade futura.

É claro que existem fatores genéticos e socioeconômicos que limitam certas mudanças, favorecem ou dificultam a realização de determinados desenvolvimentos. Além disso há vários tipos de crenças, ideologias e condicionamentos que impedem as pessoas sequer desejar uma transformação em si mesmas ou à sua volta. Por fim, todo ser humano apresenta também reflexos e instintos vinculados a estruturas biológicas hereditárias próprias da espécie humana.

O que queremos destacar, no entanto, é que o ser humano não nasce pronto pelas "mãos da natureza". A vida de cada indivíduo depende do parto de si mesmo, num processo permanente de "nascer sem parar".

O que determina, então, essa diferença entre o "animal homem" e todos os outros animais?

 

O ponto de transição

 

Podemos fazer agora as seguintes perguntas: onde acaba, no ser humano, a natureza e começa a cultura? Em que ponto, em que momento, com que fato ocorreu essa transição ou essa síntese?

O tema é polêmico. Alguns estudiosos afirmam que não há um limite rígido entre natureza e cultura, enquanto para outros um provável indicador desse limite seria a construção de instrumentos de trabalho. Aqui destacaremos duas correntes interpretativas que consideramos as mais relevantes.

 

Linguagem e comunicação

 

Alguns estudiosos entendem que o fator determinante da transição natureza -cultura é a linguagem. Trata-se de uma corrente que entende o ser humano fundamentalmente como um ser linguístico.

Assim, segundo esse antropólogo, o que teria distanciado definitivamente o homem da ordem comum dos animais - animal que ele também é e nunca deixará de ser - e permitido a sua entrada no universo da cultura seria o desenvolvimento da linguagem e da comunicação.

De fato, a linguagem constitui uma das dimensões mais importantes da cultura, pois é ela que permite o intercâmbio das experiências e as aquisições culturais. É pela linguagem, por exemplo, que os pais comunicam aos filhos não apenas suas experiências pessoais, mas algo mais amplo: as experiências acumuladas e compartilhadas pela sociedade. De modo inverso, é também por meio da linguagem que o conhecimento individual de cada pessoa pode incorporar-se ao patrimônio social.

 

Trabalho

 

Outra vertente interpretativa, desenvolvida por Karl Marx, filósofo alemão do século XIX, entende que é o trabalho que possibilita a distinção entre ser humano e animais; portanto, entre cultura e natureza. É a partir do trabalho, e da forma como se dá o processo de produção da vida material dos homens, que todas as outras formas de manifestações humanas se desenvolvem. Para Marx:

Pode-se considerar a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre os homens e os animais; porém esta distinção só começa a efetivar-se quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida.

MARX, K. e ENGEl, F. Ideologia alemã, v. 1, p. 19

De acordo com essa interpretação, portanto, é o modo como os homens constroem sua vida material que dá origem à elaboração da vida espiritual e das relações sociais, formando um conjunto que constitui a cultura. Isso quer dizer também que não podemos falar de cultura no singular, mas sim de culturas, pois elas são múltiplas e variáveis, de acordo com a diversidade dos modos de ser e viver das coletividades humanas.

 

 

 

Os mitos revelam uma expressão muito clara do modo como os símbolos são elementos culturais. Observe o mito de Eros, o amor.

O banquete (o amor, o belo) Platão

 

 “[...] Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou pela porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar – pois vinho ainda não havia – penetrou o jardim de zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá.[...]” (p. 21). Disponível em: . Acesso em: 11 fev. 2009.

 

Cultura versus natureza

Quando falamos a palavra “cultura”, podemos pensar em duas possibilidades. Uma na qual essa palavra é entendida como acúmulo de conhecimentos e outra na qual a palavra “cultura” é entendida como ação dos homens sobre a natureza por meio do trabalho.

O conceito de cultura é derivado da natureza, em especial do ato de cultivar uma lavoura. Por isso, a cultura tem seu início absolutamente material, passando, mais tarde, a ser entendida como atividade do espírito, principalmente como atividade dos homens urbanos, não mais do meio rural.

O indivíduo culto não é mais o lavrador, e sim o estudioso da cidade. Nessa concepção mais tradicional de cultura, ela aparece como relação do homem com a natureza – a cultura pertence ao mundo dos homens e é a sua forma de vencer os descaminhos e os sofrimentos causados pela natureza; a cultura está no mundo do espírito humano e deve, por seu turno, colonizar quem está próximo à natureza e distante do mundo intelectual.

liberdade e determinismo

Se retomarmos a questão posta à lousa, temos aqui uma importante reflexão. Quem nos governa, a natureza ou nossas ideias? Nosso corpo ou nosso pensamento? Dessa maneira, a cultura pode significar o uso da liberdade, enquanto a natureza pode significar o determinismo biológico.

Ao imaginar, sonhar, planejar, escrever, trabalhar, conduzir, governar, rezar ou se divertir, o homem exerce sua liberdade, enfrenta os sofrimentos causados pela natureza, prevê condições de alívio e consola-se diante do inevitável ou das suas derrotas. O homem percebe seu lugar de origem, sua identidade e, ao mesmo tempo, compreende que pode mudar e ter suas raízes autotransportadas.

A natureza estaria apenas posta diante dos homens, exigindo deles não mais que uma vida animal, submetendo-os aos destinos dos que não pensam antes de agir, dos que não imaginam nem planejam uma vida mais significativa. A natureza impõe o corpo, a fome, o impulso sexual, a necessidade de saciar a sede, a doença, o cansaço, o calor e o frio. Com a natureza, o destino do homem está traçado. Um destino nada significativo, assim como a vida e a morte de qualquer animal.

 

A cultura em transição com a natureza

 Um dos atos culturais por excelência é a arte. Seria possível imaginá-la sem a natureza? Como pensar um quadro paisagístico sem a paisagem e sem o material como a tela e a tinta que se originam na natureza? Uma música sem paixão? Um marceneiro sem a madeira? Um escultor sem a pedra ou o metal? Segundo essa concepção, natureza e cultura estão em acordo recíproco.

Por isso, o homem não é fruto determinado de seu ambiente; ele é livre, mas é intimamente influenciado pela natureza. Voltando ao exemplo da arte, por mais livre que seja um pintor, ele estará, ao mesmo tempo, limitado e inspirado por seus instrumentos – o tipo de pelo animal de seu pincel, o tipo de pigmento de sua tinta, a paisagem, o objeto ou o corpo que quer representar. Limitado, porque talvez não consiga colocar na tela seus sentimentos mais profundos; inspirado, porque sabe que pode fazer algo cada vez mais belo, com base naquilo que a natureza lhe oferece, porque domina sua técnica, avança em seus limites, diz o que ainda não foi dito, ou reproduz o já expresso de seu próprio modo

Assim, convém relativizar a ideia naturalista, que afirma ser a cultura uma expressão da natureza e sua determinação, o que devemos fazer também com o idealismo, pois as ideias estão associadas diretamente ao ambiente das pessoas. O fazer e o natural estão, portanto, indissociavelmente ligados.

 

A cultura é uma construção de si mesmo

 

Quando pensamos que a cultura constrói cada um de nós, o nosso eu, podemos supor uma divisão em nós: o eu inferior e o eu superior. Nessa relação, a natureza estaria no eu inferior, como desejo e paixão, e a cultura estaria no eu superior, como vontade e razão.

Desse modo, a natureza não estaria apenas em nosso corpo ou em nosso entorno. Ela está no mais íntimo de cada um de nós. Mesmo assim, a natureza não seria capaz de nos saciar, porque não poderíamos viver apenas de desejos e porque, se isso fosse possível, não precisaríamos de cultura. A cultura é uma necessidade física e subjetiva de cada um de nós.

Por essa ideia de cultura, podemos entender que somos capazes de nos inventar, já que estamos sempre nos fazendo. Assim, por exemplo, uma pessoa culta é aquela pessoa que inventou um ser para si.

Por exemplo, se alguém quiser ser roqueiro, o que deve fazer? No mínimo, deve aprender a escutar rock, conversar com quem entende do assunto, ler sobre ele, aprender a tocar algum instrumento. O indivíduo não nasceu roqueiro; ele se inventou, criou uma forma pessoal de ser. Do mesmo modo, qualquer um de nós pode se inventar. Caso não nos inventemos, estaremos determinados pelo mundo que nos rodeia. Podemos ser pessoas pacientes, agradáveis, chatas; enfim, tudo é questão de escolha e atividade cultural. Mas nem sempre se inventar é fácil. Somos uma espécie de planta que precisa ser cultivada por nós mesmos.

 

Cultura e Estado

Para discutir a relação entre cultura e Estado, apresente aos alunos, inicialmente, um conceito sucinto de Estado. Em seguida, pergunte-lhes: Além de nós e das influências que recebemos de outras pessoas, quem pode nos ajudar a nos inventar? Com certeza, não é partindo do nada que imaginamos o que queremos ser ou nos tornar. Por isso, precisamos da ajuda ou do exemplo dos outros. Por exemplo, se alguém quiser ser ator, necessitará de apoio para isso, desde o financeiro até o incentivo para o exercício da arte de representar.

Ora, o Estado brasileiro tem o dever de ajudar as pessoas a se formar como cidadãos, como repetimos exaustivamente. No entanto, a mera repetição dessa ideia produz resultados infinitamente pequenos. É preciso considerar outros campos de atuação estatal que incluem, por exemplo, a regulamentação dos meios de comunicação, as políticas educacionais e os incentivos artísticos e culturais. Nessa concepção, a cultura é o que está entre a maquinaria do Estado e a sociedade civil, criando tensões e, ao mesmo tempo, produzindo unidades entre um e outro. Do ponto de vista do Estado, a cultura deve ser civilizadora, isto é, deve fazer com que as pessoas se tornem mais sociáveis.

 

Conceito de cultura

 Em geral, podemos dizer que a cultura é a ação dos homens com ou sobre a natureza, por meio da objetivação da consciência (Hegel), pelo trabalho em sociedade (Marx), pela instituição de símbolos (Cassirer), por uma lei simbólica (Lévi-Strauss), por meio do contrato social (Rousseau), por meio da educação (Cícero). Em síntese, essa ação produz técnicas, valores, conhecimentos, ideias, religiões, artes e tudo o que circunscreve o mundo humano.

 

Etnocentrismo, relativismo e alteridade

“Etnocentrismo é uma visão do mundo na qual o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos por meio dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno em que se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, esses dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.”

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros Passos)

 

Atividade avaliativa

 

1-      Diferencie cultura de natureza.
2-      O que é cultura? Explique com as suas palavras, porém embasando-se nos textos.
3-      Por que segundo Karl Marx a cultura tem início com o trabalho?
4-      Por que segundo Lévi-Strauss a cultura tem início com a linguagem?
5-      Explique o que é etnocentrismo. Aborde o conceito de relativismo cultural

 

 

Tópico: Filosofia da Cultura

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