1ºAno - Ensino Médio: Mito Religião e Filosofia - O ser humano em busca do conhecimento

11/05/2020 11:02

 

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Desde os primórdios da sua existência, o seres humanos sempre procuraram maneiras de explicar os fenômenos que se manifestam no mundo. Assim, desenvolveram diferentes maneiras de explicar o mundo a sua volta, criando diferentes formas de conhecimentos tais como os mitos, as religiões e a filosofia. Vejamos as especificidades deles

Os mitos constituem como uma das primeiras formas de conhecimento desenvolvidas pelos homens para explicar os fenômenos naturais e humanos em geral. Baseiam-se, necessariamente, na capacidade dos indivíduos de acreditar em elementos que fantasiam a realidade, ou seja, a alegoria é o elemento a partir do qual o mundo é interpretado pelos mitos. Esta forma de conhecimento integram a tradição de um povo e sua tradição se ocorre de geração em geração através da oralidade. Entre os gregos, por exemplo, fundou-se uma mitologia muito consistente em torno das obras Ilíada e Odisséia, do poeta Homero. Entre os indígenas brasileiros existe uma mitologia muito rica que explica a origem do povo, do mundo, os fenômenos naturais, etc.

 

As religiões constituem-se como uma segunda forma de conhecimento, cujo fundamento explicativo dos fenômenos baseia-se no exercício da fé. Esta, por sua vez, pode ser definida como um “acreditar profundo” em coisas que não dependem de comprovações que se submetam a dados empíricos (baseados nos cinco sentidos) ou racionais. Assim, ao acreditar que o profeta Maomé subiu ao céu em um cavalo alado, ou que Deus criou o mundo, não se pretende que as pessoas procurem provas que se submetam às comprovações que submetemos as demais coisas, como por exemplo, aquelas baseadas na ciência.

Em relação aos mitos, as religiões caracterizam por uma maior complexidade das suas crenças, contando, na maioria das vezes, com sacerdotes, templos e livros sagrados.

 

A Filosofia surgiu na Grécia Antiga entre os séculos VII e VI a.C. como uma forma de conhecimento paralela aos mitos e às religiões. Suas explicações baseiam-se, essencialmente, na utilização do raciocínio como fonte de interpretação dos fenômenos do universo. Diferentemente dos mitos e das religiões, o conhecimento filosófico não é definitivo, pois sua validade é determinada pela não-contradição das suas explicações. Assim, o conhecimento filosófico é um saber sempre em construção.

 

 

Roberto dos Santos, 04/02/2014

 

 

 

 

Filosofia Antiga: o nascimento da filosofia e a ascensão do período antropológico


 

Pólis Grega e Filosofia: O declínio dos mitos

Na história do pensamento ocidental, a filosofia nasce na Grécia entre os séculos VII e VI a.C., promovendo a passagem do saber mítico (alegórico) ao pensamento racional (logos). Essa passagem ocorreu, no entanto, durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato com as formas de conhecimentos utilizadas no passado.


 

O exercício da razão na pólis grega

O momento histórico da Grécia Antiga em que se afirma a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida está vinculado ao surgimento da pólis, cidade-Estado grega.

A pólis foi uma nova forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos VIII e VI a.c. Nela, eram os cidadãos que dirigiam os destinos da cidade. Como criação dos cidadãos, e não dos deuses, a pólis estava organizada e podia ser explicada de forma racional, isto é, se acordo com a razão.

A prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos fez com que, com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente, se tornasse o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas.

 

Filósofos Pré- Socráticos

 

O primeiro período do pensamento grego toma a denominação substancial de período naturalista, porque a nascente especulação dos filósofos é instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também o princípio primordial de todas as coisas - physis; e toma, outrossim, a denominação cronológica de período pré-socrático, porque precede Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudança e um desenvolvimento e, por conseguinte, o começo de um novo período na história do pensamento grego. Esse primeiro período tem início no alvor do VI século a.C., e termina dois séculos depois, mais ou menos, nos fins do século V. Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, favorecido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar econômico. Os filósofos deste período preocuparam-se quase exclusivamente com os problemas cosmológicos. Estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito, é a grande questão que dá a este período seu caráter de unidade.

 

Tales de Mileto: a "Água"


 

Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo grego, não deixou nada escrito, mas sabemos que ele ensinava que a água era o elemento primordial a partir do qual tudo teria surgido - archè. A terra era concebida como um disco boiando sobre a água, no oceano. Cultivou também as matemáticas e a astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um calendário, e examinou o movimento dos astros para orientar a navegação. Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu pensamento só restam interpretações formuladas por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia básica: a de que tudo se origina da água. Para Tales, a arché seria a água, ou seja, esta teria originado a physis. Jostein Gaarder observa que provavelmente ao visitar o Egito, Tales observou que os campos ficavam fecundos após serem inundados pelo Nilo. Tales então viu que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é húmida, que os germens são húmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. É preciso observar que Tales não considerava a arché água como nosso pensamento de água líquida, e sim, na água em todos os seus estados físicos. Tudo, então, seria a alteração dos diferentes graus desta. Aristóteles atribuiu a Tales a idéia de uma causa material como origem de todo o universo.

... a água é o princípio de todas as coisas...”


 

O Período Antropológico: Sócrates e os Sofistas

O momento histórico vivido pela civilização grega no século V a.C. favoreceu o desenvolvimento das atividades especulativas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas de Atenas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe. Assim, diante desses debates políticos e da efervescência cultural ateniense, emergiu o período antropológico da filosofia antiga, a partir do qual o homem passou para o centro da análise filosófica.


 

Os Sofistas:

Etimologicamente, o termo sofista significa sábio. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão. Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, estes filósofos ensinavam aos seus discípulos conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados. Tais ensinamentos baseavam-se, sobretudo, no domínio da oratória e retórica Assim, as lições sofísticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias. Esta forma de conhecimento foi pejorativamente taxada de doxa – opinião.


 

Sócrates:

 

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o sucederam de pós-socráticos. O próprio Sócrates não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos, cujo principal foi Platão, e de seus adversários.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas, conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral.

O auto conhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.

Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. “Só sei que nada sei” é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de superar o enganoso saber baseado em idéias pré-concebidas.

Para Sócrates, o conhecimento difundido pelos sofistas (doxa) não era verdadeiro, pois baseava-se na aparência das coisas, uma vez que a base de captação de tais conhecimentos eram os sentidos, ou seja, a alma sensitiva. Segundo Sócrates era necessário alcançar um conhecimento superior às meras opiniões propiciadas pelas atividades sofísticas. O verdadeiro conhecimento, o episteme, habita o homem e por isso, compete ao homem buscar a verdade através da sua alma racional, da sua razão.


 

O método socrático: a dialética
 

Sócrates abordava os indivíduos nas praças públicas atenienses – ágoras - estabelecendo diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia (do grego e ironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de maieutiké, relativo ao parto).

Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido de ironia socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele.

Com habilidade de raciocínio, Sócrates procurava evidenciar as contradições existentes nas afirmações dos seus interlocutores. Assim, novos problemas surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber. A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências.

Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das próprias idéias. Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz.


 

Referência bibliográfica:


 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1992.

CHAUÍ,Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1995.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997.


 


 

A filosofia como instrumento de desbanalização do mundo

 

Observe o tirinha abaixo:

 

    Quando iniciamos os estudos em filosofia, rapidamente buscamos descobrir o seu significado, sua definição. É claro que podemos encontrar rapidamente o significado da filosofia a partir das definições clássicas. Isto, no entanto, não esgota a sede de respostas de um indivíduo mais inquisidor. Assim, torna-se mais prático e mais compreensível a busca da resposta para o que é a filosofia a partir da sua própria prática, seja na antiguidade ou nos dias de hoje.

    A filosofia surgiu entre os gregos como uma forma de conhecimento paralelo à religião e aos mitos, embora parta de algumas perguntas elaboradas por esta. Ao usar a resposta racional como fonte de explicação para os fenômenos do universo, os gregos iniciaram um processo de desbanalização do seu cotidiano. O homem inquisidor, o filósofo, era exatamente aquele que via o mundo a partir de outro prisma, o da desbanalização. Qualquer que seja a definição de filosofia, antiga ou moderna, sempre a teremos como um instrumento a serviço dos homens para a desbanalização do mundo. Isto é, com a filosofia o homem pode lançar um olhar investigativo, racional, sobre as coisas que cotidianamente os homens aceitam como verdade, embora, na maioria das vezes não o sejam. Pensemos um pouco a nossa sociedade. Quantas vezes paramos para pensar sobre o que é a política efetivamente? Quantas vezes pensamos sobre o nosso cotidiano político, sobre a forma como se organizou o nosso Estado e a nossa democracia? Aliais, o que é a democracia? E quanto ao aborto, é justo proibi-lo ou liberá-lo? É justo um aborto em caso de estupro? E quanto as células embrionárias tronco, são boas ou ruins? E os alimentos transgênicos? E o individualismo? E...

    Agora podemos perceber o quanto há o que se pensar no nosso cotidiano. Existem incontáveis questões que envolvem diretamente a nossa vida e que podem ser respondidas através do pensamento filosófico. Não devemos nos entregar às respostas banalizadas que nos são fornecidas pelos meios de comunicação tais como a televisão, o rádio e a internet. Sim, isto mesmo, a internet! Todos os seres humanos são pré-dispostos a desbanalização do mundo, e, portanto, à filosofia, pois todos os homens possuem a capacidade de raciocinar. Nenhum homem pode abdicar disso. Isto seria negar a nossa própria condição humana. Seria a porta de entrada para a perpetuação de crimes gravíssimos, tais como os perpetuados a partir de Hitler, pelos nazistas. Quando abdicamos da nossa razão negamos aquilo que nos faz humanos, somos usurpados por alguma mente que se julga capaz de conduzir a mente dos outros.

    Este espírito filosófico foi evidenciado pelo filósofo Sócrates que se dizia sempre descontente com as verdades fáceis, com aquilo que se apresenta diante dos homens como um ponto absoluto e impensável. 

Na obra Mênon do filósofo Sócrates, foi assim descrito:

... eu sabia que nada mais fazes do que duvidar e despertar dúvidas no espírito dos outros! E é por isso que agora, segundo me parece, me tens enganado e enfeitiçado e embruxado por ti, e cheio de dúvidas! Se me permites uma brincadeira direi que pelo teu corpo e por muitas outras características de teu ser, fica sabendo que és muito parecido com a tremelga do mar: esta com efeito, entorpece a quem quer que se lhe aproxime e toque e parece que me entorpeceste a mim!” (s/d, p. 83).

Ao ser tocado, este peixe chamado de tremelga do mar dispara descargas elétricas atordoantes. Eis a função da filosofia enquanto instrumento de desbanalização: deixar os indivíduos duvidosos, inquietos ávidos pela busca do conhecimento verdadeiro chamado pelos gregos de Sophia.

 

 

Reflita: questões que deverão ser feitas posteriormente:

 

1- Explique o significado dos termos pré-socrático e naturalista.

2- Relacione a Pólis com o surgimento da Filosofia.

3- Explique quem eram os sofistas.

4- Quem foi Sócrates?

5- O que foi o período antropológico.

 

 

Atividade 01: questões dissertativas - inicia-se no dia 11/05 e estende-se até o dia 17/05

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Atividade 02: questões Objetivas - inicia no dia 17/05 e estende-se até o dia 24/05

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